segunda-feira, julho 30

ESCUTA

Atenção, falemos hoje sobre um tipo de escuta muito pouco encontrado nos livros, ou nos dicionários, enfim. É um termo pouco ouvido.

Pois bem, comecemos pelo OUVIR. Fácil para quem tenha essa capacidade física. Ouvimos barulhos, conversas e até alucinações auditivas em determinados diagnósticos. Somos capazes de ouvir um sermão de 1h e pensar em tudo menos no que nos tentam enfiar pelas orelhas. Até podemos acompanhar com expressões de incentivo como: sim, sim. Claro. Pois. Exacto. E tantas outras automáticas que aparecem os nos salvar a atenção que insistimos em dirigir a outro qualquer estímulo interno ou externo.

Depois, temos a ESCUTA. Onde nada mais cabe. Apenas estar ali, atento, não só às palavras mas também as expressões e emoções que surgem. Damos o nosso melhor na concentração e atenção com tanto de nós. E reconheço ser uma característica cada vez mais rara no ser humano. Mas pode ser treinada e estimulada. Basta querermos... queremos escutar quem nos escolhe para partilhar algo. O que quer que seja! No início, outros estímulos nos “tentarão”, mas podemos a pouco e pouco ignora-los e voltarmos no mesmo segundo ao que decidimos escutar. E cada vez mais, e por mais tempo, ser capaz de escutar o outro num todo. No momento, no contexto, mas ali, por inteiro. Já agora, sem juízos de valor, despido das minhas opiniões e críticas repletas de opiniões que de nada servem naquele momento. Até porque, para as poder dar, devo primeiro escutar. É só depois então, já agora, pedimos permissão para o que eu chamo de feedback, ou seja, o que penso, sinto sobre o escutado.

Devolvo a minha perspectiva. A minha forma de ver o que ouvi. Não como verdade única ou mera opinião. Se for sentida, refletida e na “ambição” dos sapatos do outro, e depois de verdadeiramente escutada, e com a permissão do outro, então sim, posso abrir o que me vai na alma. (Alma por definir o nosso todo na alma. Onde cabem pensamentos, sentimentos, emoções e muito amor... E não se baralhem , falo em amor no sentido de desejarmos o bem ao outro.)

Depois temos ainda a ESCUTA ATIVA. Que parece igual, mas eu distingo no momento em que eu faço perguntas pra perceber se o que eu percebi está de acordo com o que o outro quis dizer. Asseguro me que a mensagem foi bem compreendida clarificando algo que não me tenha feito sentido por exemplo. Mas outra vez, não pelos meus juízos de valor mas sim sobre o conteúdo na mensagem.
E partilho algo que adoro sobre a escuta:

 «Falar é uma necessidade, escutar é uma arte». Goethe

Mas hoje apeteceu me mesmo foi falar da ESCUTA SELETIVA. Isso. Exatamente. Seleciono o que escuto ou oiço. ADORO!! 😂

Na verdade, para quem tem essa capacidade física só “escuta” o que quer. Não! Espera! Então tenho que redefinir, e chamar-lhe AUDIÇÃO SELECTIVA. Pronto. Assim está bem melhor. Lol lol lol

Como era de se esperar, já passei por isso, na primeira pessoa, mas aí não tem tanta graça. Graça tem percebemos no outro. E já agora divertirmo-nos também pois chega a ser de nos tirar do sério.

Quem de nós não teve já num filho esse diagnóstico? Lol lol lol
Carlota, vais buscar a chupeta do mano por favor? Olha que se não comes a sopa desligo a televisão. Mas a mariana não ouviu... Ao chegarmos a casa o primeiro a fazer são os trabalhos de casa. Convém, e muitos de nós fazemo-lo com um: ouviste mariana? Ouviiii mãe. Ok. Mas há poucos que perguntam: e o que foi que eu disse? 🙄

E a guerra se instala ao chegarem no primeiro vou fazer xixi, e agora tenho fome e deixa-me só coçar aqui no pé debaixo da meia que me chateou o dia todo, e lavar o olho que parece que entrou aqui alguma coisa, agora é sede, depois até o organismo ajuda e vem um cocó interminável... 
lol lol lol

Virginiaaaaaaa!!! Já te disse para fazer os trabalhos de casa. Aqui é mais fácil perceber pois há coisas de natureza urgentes que os fazem adiar os trabalhos. Há, digamos uma, maior honestidade. Lol

Mas lembro-me por exemplo da professora da minha filha mais velha enviar, preocupada, um recado para os pais: a vossa filha ouve bem?
Olhamos um para o outro e rimo-nos em tom de cumplicidade e um... Auch socorro. Claro que ouve! Mas vem aquela dúvida cruel, de que como teve tantas otites este ano, podem ter ficado sequelas... e entupiu-se-lhe o buraquinho por onde passam as regras da professora. Ok. Pediatra, otorrino, exames auditivos, resultados, otorrino e pediatra outra vez. Não. A vossa filha não tem um problema auditivo...

Mas isso já nós desconfiávamos, mas para nos sentirmos aqueles pais tão bons que não falham, de tudo fizeram para se poderem organizar com a audição da criança a perplexidade da prof.

Mas fomos muito honestos desde o início: acho.. que só ouve o que quer. Ahhhh. Ok. Graças a Deus! Pois este problema tem solução!! Mas... aíiiiii socorro que agora depende de mim, e não do otorrino ou umas gotas mágicas que se compram na farmácia... 😬

Repetem-se as coisas 4, 5, 6 vezes e a criança, coitadinha, às vezes até faz mesmo um ar muito aflito como; não te oiçoooooo...
Ou faz de conta que até nem é nada com ela. 
Como se divertem... 
por aqui foi fácil. Com um diagnóstico tão simples e concreto, adicionando o nosso “achismo “ inicial...

Explicamos que a audição seletiva teria consequências seletivas também.  Curioso... passou a ouvir tão bem!!!
😂😂😂😂😂

E não se iludam. Se ouve umas coisas, ouvirá as outras também. Acho mesmo que faz parte das crianças desafiarem-nos até ao tutano. Mas cabe-nos a nós mostramos que não as trataremos como vítimas ou coitadinhas. Ou ainda melhor, que nos tem sob controlo das suas manipulações. 

Podemos até nos rir pela excelente capacidade que levam dentro. E serem tão fiéis ao papel imaginário que criam. Mas... existirão seguramente coisas mais interessantes nesse pequeno ser humano que mereça ter-nos ali a falar com elas. Além de papagaios a repetirmos 300 vezes, ou 3 que sejam, e permitirmos sermos “gozados” por elas, pois isso não trará qualquer valor ao mundo, interno ou externo da criança.
Aos mais prevenidos e preocupados, procurem primeiro dos técnicos de saúde o despiste de algo tão grave que as faça ouvir pior ou melhor consoante a situação. Mas... atuem... enquanto for tempo. E não cresçam com a mensagem que posso fazer de ti o que me apetecer.

Dedico-te, meu amor, todo o meu tempo e atenção, mas não para o mal, combinado? Anda cá que te vou ajudar outras formas de me teres a olhar para ti de forma interminável sem permitir que te sintas mal um dia por me enganares ou pior ainda, que nunca te sintas mal por isso ;)

Agora, garantam que o farão, que encontrarão essa qualidade na criança (que para mim basta existirem) e passarão horas a contempla-la. Ou ensiná-las aquilo que tanto incomoda nas piscinas dos hotéis: mamã! Mamã! Olha para mim! Olha a cambalhota que já sei fazer! Não, espera, não deixes de olhar, esta não saiu bem, e esta também não, mas fica a olhar que uma há de sair bem!
Mamã! Mamã! Olha! Esta relva é verde!! Mamã! Mamã! Mamã! Olha, fiz um T com os grãos de arroz no prato. Mama! Mamã! Olha para mim! ...

Gastem-me o nome, mas aprendam a pedir atenção, mesmo quando sinto que não faço outra coisa 😉

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